mardi, janvier 26, 2010

Valete entrevistado por Zeblak

[Zeblak] Desde quando faz rap tuga e porquê ? O que é que te incentivou a fazer rap ?
[Valete] Faço rap desde 97, senti-me atraído por começar a fazer umas rimas quando começou a nascer um movimento underground pós-Rapública com bons projectos como Funky D's, Micro, Dealema etc ... Senti-me identificado com a atitude e a essência do que se fazia, e aí senti também necessidade de fazer parte.

Quais são as mensagens nas tuas letras ?
Eu gosto essencialmente de fazer um rap consciente e progressista. Tento dizer aos jovens que é fútil estarmos a resumir a nossa vida apenas em comprar roupas, ir a discotecas e em bater records de conas fodidas. Tento também mostrar ao pessoal quem são os nossos verdadeiros inimigos. Mas eu não sou um rapper de uma só temática. Gosto de fazer battle rap, storytelling, cenas políticas, rap descritivo etc ... Antes de tudo gosto de fazer arte e nela pôr aquilo que sou e aquilo em que acredito.


Qual é o teu objectivo no rap português ?
Nenhum em concreto. Amo o rap, vejo-o primeiro que tudo como uma forma de arte, e é artisticamente que me tento expressar. Tento fazer arte quando escrevo, e fazer arte quando estou a fluir em cima dum beat.


Porquê o nome VALETE ?
Vi um documentário sobre ilusionismo e soube que existe uma ideia mística para os ilusionistas de que quando se faz um truque de cartas, e quando se dá uma carta a escolher, se a pessoa escolher o Valete, o truque não dá certo. É como se o Valete aparecesse para não deixar que te enganem.


Donde vem o teu amor pelo rap ?
Eu senti-me identificado com o rap, porque acho que é uma forma fantástica de te exprimires livremente, e que valoriza essencialmente a qualidade da escrita dos protagonistas. Noutros estilos musicais há gajos que são vangloriados porque têm uma boa voz ou um porque têm um hit catchy. Aqui não. No rap (o "real") para seres valorizado tens que mostrar skills, inteligência e suor.


Como fizeste para estar nesse lugar (Um dos grandes nomes incontornável do rap nacional) ? E com uma ajudinha de quem ?
Ahahah, nome incontornável ?? Quem me dera. Sinceramente não sinto isso, mas posso-te dizer que o Adamastor, Sam, Vinagre, Gang Lírico, King , Touché, Bomberjack foram manos que sempre acreditaram no meu rap, até quando fazia cenas wacks pa' caralho. Motivaram-me, apoiaram-me e nunca me deixaram cair.


Foste influenciado com alguns rappers ?
Influenciado não sei, porque isso implica que exista uma presença da marca desses rappers no estilo que criei. O que te posso dizer é que admirei muito gajos como KRS1, Pensador, Racionais, Common, Nas e hoje gosto muito de ouvir Immortal Technique, Jean Grae, Chino XL, Royce da 5,9, Tote King, Gutierrez, Mata-frakuxz e alguns rappers tugas muito bons.

Com quem querias trabalhar (musicalmente claro) ?
Gostava de fazer uma faixa com o Tote King, é um liricista espanhol com o qual me identifico bué porque para além da grande qualidade que tem, vê-se que é um mc muito competitivo, e eu também cresci no rap com esse espírito. É possível que aconteça essa conexão ibéria, gostava muito. Aqui na tuga há manos da minha geração com quem nunca rimei e também gostava de fazer umas parcerias nas rimas. Manos como o Mundo, Xeg e o Sanrize por exemplo.

Como vês a evolução e o futuro do rap tuga ?
Acho que 2005 vai ser o ano 0. Tudo o que fizemos para trás foi apenas treino. Muitos mc's estão a chegar a um estágio final de maturação. Outros que eram bons (com muita pena minha) já não se conseguem reinventar e por isso ficarão desactualizados. Cada vez há menos espaço para falhar. Hoje há mais e melhores produtores, mais e melhores condições e os rappers têm que vir muito melhor preparados. Há espaço para 1000 estilos e 1000 coisas diferentes, mas sinto que agora o pessoal já não está para tolerar álbuns que parece que foram feitos num fim-de-semana de praia. Hardcore, sentimental ou chill out rappers agora têm todos a responsabilidade de fazer boas músicas. Algo agradável de se ouvir do início ao fim. Músicas com guião. Acabou a fase de flows monótonos, rimas descompassadas, atropelos no beat, refrões desarmonizados etc ... Tem que ser sério a partir de agora.

Quais são teus sentimentos ao respeito do hip hop nacional ?
Sou fã de hip hop tuga. Oiço muito. Oiço praticamente tudo o que sai, para além de ouvir bué maquetas de new comers. Há alguns rappers que admiro muito, porque para além de serem bons, conseguiram construir um estilo próprio e fizeram escola no rap tuga, influenciando muitos rappers da nova geração. Vão ficar na história.


O que ouves sem ser rap ?
Oiço também new soul, cenas tipo Jill Scott, Erikah Badu, Musiq etc ... Não sigo muito o actual movimento raggae, mas sempre que algo de qualidade entra na minha aparelhagem absorvo intensamente.

Quais sao as tuas influencias sem ser hip hop ?
Trotsky, Carlos Mariguella e Che.



Finalmente ... O teu próximo álbum e do Canal 115 estão previstos para quando ?
Acredito que sai ainda este ano, e acredito mesmo que vai ser um álbum intemporal, e que daqui a 20 anos o consiga ouvir com o mesmo prazer. Queremos muito lançar um álbum Canal 115,mas agora estamos todos concentrados nas nossas cenas a solo por isso depois logo veremos. No meu álbum já vai haver uma espécie de preview, será a primeira faixa editada de Canal 115 já com o Bónus na formação.

Junho 2005 









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