dimanche, février 19, 2012

CelsOPP entrevistado por Zeblak

[Zeblak] Qual foi o teu percurso no hip hop ? 
[CelsOPP] O meu percurso no hip hop remonta dos anos 90, comecei esta aventura em meados de 93/94. O meu primeiro concerto oficial foi com o meu grupo da altura em 94 na maior disco africana até a data da península ibérica, que se chamava Morabeza.

Fazia parte dum grupo de rap chamado Shot Gun, nome dado pelo meu companheiro de grupo Dori e amigo de infância, constituído por Fat, Cowbs G, W.I.C, Dmastah (eu), Dori e outros de certo modo seguidores Frensh e Will Cool G. Muita influencia do rap americano na altura, Wu Tang, Onyx, etc, etc ... 

Desde ai começamos a carregar as siglas do bairro as costas, OPP (Outurela Portela Projects) o bairro social onde todos fomos realojados. E criamos. O grupo mais tarde desfez se e criou se os G.S (Gueto Squad) Mecena, Toushe, Fat, Dmastah, Nigga P, que em 98 editaram o primeiro álbum. Uns anos mais tarde alguns dos membros ou quase todos imigraram e eu continuei, na necessidade de continuar porque a musica era mais forte que eu em 2001/2002 formei um grupo com o meu primo Ivo Luz por nome de S.S (Sampadjudos)

Com o single 'Street life', video single vendido pelos sons de África e distribuído por toda a lusofonia dei o meu primeiro passo gigante na carreira. Escuta só e S.S. Continuação foram os dois álbuns dos S.S que me deram o boost para dentro do panorama do hip hop feito em português, que manteve esse nome até 2005 quando recebemos a proposta de assinar pela Very Deep ... Motivos maiores puseram nos a mudar o nome para Samp (Sampadjudos, um dos dialetos falados em Cabo Verde). Com o contrato com a Very Deep com o álbum Other Life. Mudamos o nome do grupo por causa da má conotação que o mesmo poderia ter em certos mercados. Desde então tenho vindo a trabalhar com imensos grupos, alguns trabalhos a solo, 'Faixas Perdidas' e 'Ilumina a ti', projetos inclusive a personagem cómica de hip hop caracterizada pelo Rui Unas, porque primeiramente sou produtor/compositor e a produção musical é o que realmente me fascina depois do poder de comunicação que o rap me dá.


O que é que te incentivou a fazer rap ? 
O incentivo posso te dizer que foi dado pela minha mãe e alguns mais velhos e familiares para fazer musica, mas quem realmente me incentivou e 'mostrou me' o rap foi o meu amigo de infância podemos assim dizer, Carlos Fernandes aka Fat (Shot Gun) porque no inicio não foi fácil fazer parte do grupo porque eu era o mais novo. Claro que acredito que muita coisa nos escolhe e não ao contrario e acho que a vida me pós no lugar de uma pessoa que vive com a necessidade de se expressar, comunicar e partilhar experiências de vida com o mundo que lhe rodeia ...


Quais são as mensagens nas tuas letras ?
Algumas pessoas já me chegaram a dizer que tenho uma visão fechada sobre o mundo, loooolll, o mundo é lindo as pessoas também as nossas ações é que estão a deixar muito a desejar. Principalmente quando escrevo , escrevo o que sinto que devo, através do que me foi educado que é o certo ou o errado. Errado para mim é a imagem que a sociedade tem sobre certas e determinadas culturas, pessoas, zonas, hábitos, religiões e a falta de respeito do ser humano para com o seu igual. O abuso excessivo do poder, a ganancia louca do bicho homem, A vaidade desmedida do preconceito, a desigualdade de direitos humanos e oportunidades, as guerras, a fome, a doença, o genocídio de certas raças e culturas, o apagar e manipular da história de uns e a gloria da de outros, a tristeza no rosto das crianças, o ego desmedido do ser humano, o desequilíbrio, etc, etc, neste mundo global. 

Basicamente acho que todas a leis impostas pelo homem são injustas e só as de deus fazem sentido ... Tento transmitir boa energia, esclarecimento com partilha, informação e direção, tento ser a voz amiga de quem me houve, a luz do fundo do túnel, o companheiro nos bons e maus momentos,a voz guia da tua força que te levanta para lutar.


Donde vem o teu amor pelo rap ? 
Provavelmente há coisas que não sabemos responder, como a origem dum grande amor. Eu não amo APENAS o rap, eu amo a musica , o rap é o formato que mais me identifiquei para dar meu inicio neste percurso musical que fiz dela minha vida. O mundo sem sons seria um mundo deprimente e vazio, tudo vibra tudo emite som, eu sou apenas mais um dos instrumentos da natureza que faz ela ser a beleza que é. Partilho experiências de vida em forma de musica no rap, encontrei uma forma de me sentir e respeitar a minha verdadeira essência.


Podes falar da tua experiência Samp ? E a Divisão De Honra ?
A experiência de Samp fez me concluir o que eu já tinha quase como certo. Que esta industria na sua estrutura não está segura. Existe uma grande falta de noção de empreendedorismo e de oportunidade neste pais, um nacionalismo barato e altamente prejudicial para o desenvolvimento das artes e cultura lusa. Eu represento a massa significativa de artistas descendentes de imigrantes que nasceram em Portugal e sentimos na pele o peso de o ser. Infelizmente o crioulo ainda e visto como uma língua indígena, mas na sua raiz faz parte de Portugal assim como o fado. 

O álbum de Samp na sua base era em português mas houve impasses e obstáculos porque no final do dia representamos e somos feitos a imagem da parte cultural do pais que não respeitam e que ridicularizam, num misto de preconceito e medo não querem deixar que a gente sobressaia ... A Very Deep foi vitima do que há muito venho a dizer, era uma label de artistas negros e sendo negro nesta terra se não for para os fazer rir ou dançar ou e até confirmar os defeitos que nos atribuem dificilmente sobressairás pelas mãos do sistema. O mais irónico é que a administração e os donos são luso-descendentes e são os primeiros que vos podem contar sobre a verdade do que venho a falar. Enfim, esta é uma sociedade com a mente ainda em estado primitivo... lool. 

A Divisão De Honra surgiu da seleção e união natural da vida e natureza e juntou digamos, vários descendentes de países lusófonos quase como uma organização como a CPLP, loooool, e como havia a burrice dos meninos do Rap Tuga de se auto intitularem de primeira liga, surgiu como que numa brincadeira que no final faz sentido, a ideia de nos chamar de Divisão De Honra. A nosso ver acima de qualquer divisão, e com muito mais sentido pois o que fazíamos e fazemos é com honra, musica com o coração de ti por ti para os teus. Musica pura sem qualquer filtro ou intenção negativa de controlo, feita e representada por vários "filhos" do português ! Quase como a selo dos muitos países de língua portuguesa misturados num só projeto. Projeto esse que fez que todos partilhassem e crescessem uns com os outros ... 

Foi muito linda essa fase da minha vida artística, foi uma experiência muito regeneradora em que todos os que participaram saíram beneficiados como que numa escola tivéssemos e todos passaram de ano. Em breve o que gravamos naquela altura, pois musica boa é intemporal será partilhado online for free, pois só amor não tem preço e o que fizemos foi pela honra.


Como vês a evolução e o futuro do rap tuga ?
Da minha parte, vejo futuro pois tenho estado a trabalhar tentando quebrar barreiras de preconceito que desde sempre foram impostas pelos próprios meninos que a fazem a evolução do rap português. Já tivemos a fase que 'cuspiam' na verdadeira fonte da mesma cultura que lhes apresentou o rap e deduzo por ma interpretação do próprio rap em si e isso nunca fez sentido para mim. A arte não foi inventada por nós, hoje nada se inventa adapta se e evolui se, cabia nos a nos apenas respeitar toda e qualquer forma de expressão dentro da mesma, mas a verdade é que existe um velho habito humano de cuspir no prato que se come por estas bandas pois todos querem ser os maiores pois no subconsciente trabalha o facto de a maioria pensar que nada sairá daqui para muito mais além então nos seus mundinhos feitos para os proteger acham se reis.

A minha meta sempre foi o mundo, os povos, as pessoas e suas mentes, sejam elas portuguesas chinesas ou whateva. A arte não tem que ter leis apenas regras , não tem que ter uma só língua e se existe uma chama se língua universal que não é a que falamos mas a que todos entendemos.. A mente e a atitude dos artistas em Portugal e não especificamente do rap mas sim de todos tem que mudar, Portugal é um pais multicultural no entanto ainda vive se muito sobre uma atitude nacionalista barata. Exemplos : celebração da língua portuguesa disseram. Poetas de karaoke demonstrou que ainda existe um certo sentimento camuflado de preconceituoso em relação a outras línguas dentro da musica feita em Portugal. Na altura manifestei me e todo levaram a mal mas penso cá para mim, ISTO É A VERDADEIRA ATITUDE DO RAP ENTÃO ESTOU CERTO, porque lembro me de certa forma o meu percurso ter sido prejudicado pela ma interpretação e maldosa de certas grupos que trabalham com a musica, do tipo o teu rap depois desse som ficou menos rap e chamado de karaoke porque davas dicas em inglês ou em crioulo ou em francês, e sem darem conta as pessoas alimentaram um sentimento de preconceito na industria. 

Agitou aguas sem duvida, mas portas se fecharam para quem não teve a mesma sorte e exposição, via a cena da musica rap de outra forma e se expressa se noutras línguas porque a maior fonte de exposição do rap português digamos, liderou quase que uma campanha contra os artistas nacionais que faziam musica noutras línguas e cheguei a ouvir de gente da radio que não passavam a nossa musica porque não era em português e o pior é que senti que quase rocou em contornos raciais as consequências de tal 'HINO', mas na mesma moeda passam musica estrangeira feita fora de Portugal. Não sei se é complexo, ou ego barato e infantil, ou uma tentativa de afirmação pois um dia fomos heróis do mar e hoje somos heróis do ar, lol. 

A verdade é que pode se explorar o mercado da língua portuguesa, é sabido que é falada por centenas de milhões penso eu, mas no entanto os países colonizados na sua origem falam línguas provenientes do português e não são de certa forma relevantes para expansão da cultura musical derivada do português ?? A Amalia foi a maior artista portuguesa talvez a mais internacional não tenho esses dados mas é sabido que a Cesária Evora quebrou barreiras da língua impensáveis e no entanto não foi o mercado do pais que colonizou a sua origem que a impulsionou. E continuam a cometer os mesmos erros, para seres grande neste pais tens que vir de fora, ir para fora, ou singrar la fora porque aqui não te dão nem valor nem respeito. Penso que é uma área que esta sociedade não sabe trabalhar que é gerir os seus 'negócios'. Do meu futuro sei um pouco, trabalho muito e consigo ver a luz no fim do túnel, do futuro do rap tuga não sei o que os outros andam fazendo mas, se for um pouco do mesmo que têm vindo a fazer vai ser muito difícil pois andam sempre no cu da moda ou na copia da mesma, falando de musica claro, e não damos valor a quem realmente tem porque eu sei que existe muita musica boa cá fora e dentro do hip hop mas, infelizmente o sol aqui só brilha para alguns e quando o faz è aos quadrados. looooll.


Novos projetos ? 
Eremitei estes últimos 4/5 anos a procura de mim mesmo, atrás da minha verdadeira sonoridade e essência porque por vezes os impulsos desviam te dos teus objetivos e esses meninos do rap tuga, esta sociedade mesquinha e atrasada estes códigos antiquados desta industria quase que estavam me tirando do verdadeiro caminho que é iluminar e não o contrário. Vem ai muita coisa minha, como todos sabem sou bué versátil e uma coisa que nunca irei dar ao meu publico será uma cena plástica e fútil. Sempre que faço musica ou participo em alguma, a energia que deposito é real e verdadeira, falo sempre de dentro e preocupo me com quem me segue e ouve, procuro ser o mais verdadeiro possível porque acredito que no final do dia musica é energia e não roubo nem um bocadinho da que me chega, até acho que a amplifico dando a som e como ela chega é como ela sai, sem filtro. Têm me ouvido em outros estilos musicais desde sempre mas em dias de hoje estou a aprofundar mais certos nos quais me sinto mais a vontade como artista porque como produtor quero fazer tudo. 

Noto pelo feedback que tudo o que eu faço e represento esta se tornando mais serio, mais maduro, mais objetivo e mais abrangente do que já era. Sou muito auto-critico dai não perder tempo sempre que posso dar uma critica, mas a verdadeira essência da minha intervenção é sempre construtiva, sempre em prole do coletivo e para evolução do próximo. Eu faço musica por meu povo pois nos somos a verdadeira riqueza do mundo. Ser rico é importante porque dinheiro é poder mas mais que ser rico, importante é ter riqueza e essa pode não ter que ser em forma de uma moeda. Preparem se para entrar na Forbes porque o que ai trago nos tornará muito mais 'ricos' serà a propria riqueza ... loool.


O que pensas dos mc's fora de Portugal e que fazem rap em português ? 
A experiência me diz que mentalmente estão mais preparados como disseste e bem estão fora de Portugal. Confesso te que sem querer ser mal interpretado pouco oiço de musica, deixei de o fazer e quando digo isso é musica no geral. Sinto que tenho imensa informação e muitas vezes me questionava de onde vinha, hoje sei que é inato então vou escavando até descobrir a minha verdadeira sonoridade sem me deixar influenciar ou empenhar pelos ouvidos literalmente ... Estou em modo criativo a uns anos, talvez a 18 desde o inicio (looolll) quem senta aqui na cadeira do pendura (loool) no meu estúdio sabe o que estou a falar. 

Tenho imensa coisa, de tudo e mais alguma coisa, como quem procura algo e vai escavando a minha volta está imenso 'entulho' e eu sou um gajo de reciclar e nada deito fora porque sei que tudo se aproveita e musica boa é intemporal. Os artistas foras de Portugal que lhe dão em português só lhes peço que não fechem as fronteiras por isso é um erro partilhado por muitos aqui. Não ditem, cantem, não se limitem a fazer rap, façam musica e sigam o vosso feeling ele sabe sempre o que tu queres ...


Quais são as tuas influencias sem ser musica ? 
A vida, o mundo, a natureza e as pessoas ! Dito isso, só especificando mas creio que resumindo diz tudo sobre as minhas influencias. Hehehe ! 


O que pensas da crise em Portugal, em Europa, no Mundo ?
Vejo a crise como um medo imposto pelo 'pastor' ao seu rebanho. O medo provoca caos mas normalmente vão todos para mesma direção, pisando se, empurrando se, etc, etc ... Arrebanha se mais depressa assim e elas estão tão preocupadas com o medo que provocou a palavra crise que lhes roubam leite, tosquiam nas, vendem nas para talhos e elas não dão conta e por ai fora nesta analogia. Acredito que a crise é uma palavra que subconscientemente mudou as pessoas e o seu entendimento sobre o que é ser livre e ser feliz.

As pessoas tão sem dinheiro porque o espírito na verdade está pobre, são mal governadas sim senhora mas pelas pessoas que elas elegeram, a informação está hoje em dia ai a distancia de um click e só basta querermos aceitar que a verdade está no que sempre negamos e eles que nos roubam usam o que sempre negamos para beneficio deles ... falta lhes a energia para dar a volta porque estão em choque por causa do medo de perderem o 'pouco' que têm ou são mas vendo bem, se juntarmos todos como rebanho e irmos contra a vedação talvez umas morram mas a maioria se salvará ! 

Penso ser uma política que tem como base o alarmismo que provem do medo para dominar e ter poder e as pessoas com medo de perder, ter, não ser, não fazer e etc e assim. Assim controla se melhor os objetivos desta crise que para mim é espiritual. Tristemente a verdade é que o homem só sede no medo ou na morte, e no medo muitos se esquecem que podem descobrir a coragem. Não acredito na crise mais do que acredito numa fase má espiritual de qualquer ser, já acredito que mudará mas para isso temos todos que lutar e ser corajosos porque este pastor que nos está a arrebanhar alimenta se pelo medo.


O que dizer à um adolescente que gosta muito do hip hop e que quer entrar no movimento rap (mc, dj, b boy, writter)
Nunca é tarde para se tentar, se calhar não estamos na melhor fase do mercado da musica mundial mas, é quando o mundo está como está é quando aparecem oportunidades de pequenas ideias, grupos e convicções se tornarem grandes. Porque se conseguires nesta altura que o mundo está digamos doente quando se tornar saudável estarás em plena forma. Diz se que as grandes doenças vencem se não só com a medicina. 

Ainda acredito em gente com poder de mudar o rumo e a história do mundo, acredito ainda em artistas preocupados com o mundo as pessoas e a natureza, eles andam ai e nós que levamos avanço podemos desperta los e de certa forma motiva los e encaminha los em direção a luta por um mundo melhor e mais justo. A musica tem um grande poder equiparável a política, o hip hop e uma cultura urbana ou seja do povo, das pessoas, não tens que ter um curso académico para 'seres' hip hop é algo que nasce contigo, não o melhoras com livros mas sim com a vivência, experiência e partilha, falo de musica e da cultura porque o importante não é continuar a fazer o rap como nós o conhecemos o importante é usarmos o rap da melhor forma possível e para beneficio de todos em prole de uma sociedade mais coesa, unida , informada e justa. Peguem no microfone não porque querem ser estrelas com as da tv mas sim, porque queres ser estrelas como as do céu e iluminares outros e o mundo.


Uma palavra para os soldados do hip hop ?
Soldados em frente é que é o caminho. Juntos chegaremos a destino temam Deus e mais ninguém, amen. O mundo e as pessoas, pois as pessoas sim têm valor. Peace !


Fevereiro 2012







mardi, février 07, 2012

Jackpot entrevistado por Zeblak

[Zeblak] Desde quando faz rap tuga e porquê ? O que é que te incentivou a fazer rap ?
[Jackpot] Bom, eu oiço hip hop tuga quase toda a minha vida, mas comecei a pratica-lo a partir de Dezembro de 2004.
O que me incentivou a fazer rap basicamente foi o meio ambiente onde cresci. Não estou a falar somente dos meus problemas em casa mas sim da minha zona no geral. O meu bairro, BCV de Cascais (Bairro da Cruz Vermelha), fica situado entre Sintra e Cascais (ironicamente mesmo ao lado da prisão do Linhó) e é um dos ghettos mais problemáticos de Cascais … Geralmente quando se fala de Cascais diz-se que é uma zona só de gente com dinheiro (as ditas "tias") e condomínios luxo … isso impulsionou-me fortemente a querer marcar presença da periferia (bairros sociais) no "mapa" e mostrar que Cascais não é perfeito como a comunicação social mostra.

Quais são as mensagens nas tuas letras ?
Eu não tenho uma mensagem central … falo um pouco de tudo. Hoje posso estar a viajar num tema mais consciente à volta do sistema corrupto que vivemos ou da crise financeira no qual estamos a passar, e do nada, passar para outro som a falar de canjas e laranjas … Sou muito espontâneo e controverso no que toca a temas, por isso não me agarro somente a um.

Donde vem a tua inspiração ?
Nomeadamente da minha rotina, do meu bairro, dos meus amigos, até de simples conversas … Sou um gajo que agarra pormenores comuns e transforma isso em inspiração. Obviamente também me inspiro no mundo em geral, mas com tantos rappers a falar das mesmas merdas que acontecem, eu prefiro não me focar muito nesse tipo de inspiração e tentar encontrar fontes que quase ninguém toca.

Qual é o teu objetivo no rap português ?
Epah não sei, canto por gosto … Se ganhar com isso melhor ainda.

Donde vem o teu amor pelo rap ?
O que eu sinto pelo rap é inexplicável, gosto dele mas não te sei dizer se é amor ou vicio. Só sei que preciso dele como ele de mim ...

Porquê o nome Jackpot ?
Inicialmente usava o nome artístico de Dany B. Durante dias investi todo o meu conhecimento a desenvolver a arte de produzir, editar e compor músicas. Com o passar do tempo fui evoluindo na produção de instrumentais, no flow e nas letras e reparei que Dany B já não se enquadrava muito com o meu estilo. Quando dei por mim tinha a combinação certa para marcar a diferença no movimento. Então tive uma ideia, mas não podia me auto declarar de eureka ou cena assim … Então agarrando no conceito "combinação certa" (flow, beats e rimas), nasceu o Jackpot simbolizando a conquista de um objetivo que muitos querem mas que poucos alcançam. Mais tarde apareceram outros Jackpot’s no movimento. Então para não me confundirem com eles, decidi juntar ao nome as iniciais do bairro onde eu cresci. Então ficou Jackpot BCV.

Podes falar da Golden Mic e Slotmachine ?
A Golden Mic foi criada no ano de 2005 por um grupo de jovens, todos oriundos da periferia de Cascais. Tem como objetivo acolher e possibilitar dar projeção a outros jovens provenientes de bairros sociais (ghettos) fornecendo condições para estes mesmos expandirem a sua criatividade a troco da sua dedicação não só pelo grupo mas acima de tudo por esta cultura que nos une.
A Slotmachine Produções é um subgrupo criado dentro da própria Golden Mic. Inicialmente surgiu como uma ideia minha para uma mixtape, mas decidimos agarrar no conceito e fazer disso um nome para um grupo. Inicialmente era composto por mim, pelo Ferro (aka Hannibal) e Dj M.G.L.
Hoje já temos mais 3 membros … o Kamerman, o K e o Alex.

Foste influenciado com alguns mc's ou outros estilos musicais ?
Epah identifico-me com 2Pac, B.I.G., Mano Brow, MV Bill, Atoxikus, Mos Def, Krs One, Wu Tang, Das Efx …

Com quem querias trabalhar (musicalmente claro) ?
Eu só trabalho com quem eu sinto que consigo conciliar o meu estilo. Não me interessa se o outro artista é famoso ou desconhecido. Se não for do meu feeling então cago no assunto. Prefiro mil vezes gravar uma música bombástica com alguém que eu sinto, do que fazer uma bela merda sonora só para ganhar mais projeção no nome.

Como vês a evolução e o futuro do rap tuga ?
A nível de qualidade sonora posso dizer que o rap tuga evoluiu muito. O people já não se baseia naquela cadência de rimas básicas, e hoje em dia há mais diversidade de flows e de beats, o que é muito bom para quem faz e para quem ouve rap tuga.
Mas a nível de filosofia e conhecimento sobre o significado simbólico desta matéria, a Tuga ainda está um pouco atrasada. Mas com o tempo e mais dedicação das gerações correntes, pode ser que a Tuga venha a dar bons frutos no movimento hip hop. Quanto ao futuro … a família Golden Mic estará sempre a representar.

Novos projetos ? E a mixtape volume 3 ?
Tenho uma bomba guardada aqui no meu stock de projetos que é o meu álbum "Free_Estilo". Só estou à espera do momento e do investimento certo para soltar a fera, porque quando isto sair, vai haver gente a cuspir molho dos ouvidos só do vício que isto vai provocar ahahahah. Mas entretanto vou lançar uns vídeo clips só para dar aquele tesão ao people.
Quanto a mixtapes, já estou a preparar o volume 3 (que é a minha 4ª mixtape), e posso dizer que pela qualidade do produto, esta merda nem devia ser considerada de mixtape. É o seguimento da série "Mixtape Jackpot Produção" e vai se chamar "Fuck off".

É fácil ser mc em Portugal ?
Sim é fácil… difícil é carregar a responsabilidade desse fardo, ganhar o reconhecimento dos outros rappers e conseguir a projeção necessária para obter o título de mc.

Uma última palavra para os leitores …
Obrigado pela vossa atenção … mando um forte abraço em nome da família Golden Mic e Slotmachine a todos aqueles que apoiam e ajudam a manter o street rap vivo … ah, e não se esqueçam : 

"É admirável ver a luta para cada conquista, Ter nascido sem nada e conseguir subir na vida …"        By : Jackpot BCV


Fevereiro 2012